Tuesday, November 21, 2006

O RENASCER DO POETA

eis que surge o poeta
nascido aos pés do morro
nas minas cheias de ouro
dom da palavra correta

de casa seu verbo brotou
ganhando bárbaras trilhas
malha de muitas milhas
até que um dia calou

ao chão lançou sua pena
desolada e distante heroína
silêncio que a ela condena
escatológico som da ruína

a pena subjulga a espada
limpa a carne rasgada
percute a corda esticada
e por nada ajoelha calada

em prantos se abre risada
gozando se geme de dor
contundente verso a expor
inevitável curso da estrada

eis que surge o poeta
das cinzas vem renascido
dele se ouve estampido
infinita força do nada

20 nov 2006

Friday, November 17, 2006

FOLHAS NUTROLÓGICAS

deveras elucidativo seria
para o ser humano glutão
conhecer o precursor da notícia
de que precisamos do pão

vida é movimento
energia
transmutação contínua do nada
do não
em organismo engenhado
à mão

nutre teu corpo
e o faça direito
não te leves pelo engano
de que há outro jeito

alimenta-te pois tão somente
do que pede tua fisiologia
templo de sagrada harmonia
sagaz liberdade da mente

bebe do cálice da vida
e das folhas que a ti emana
o centro da linha infinita
luminosa essência do prana

belisca tuas paisagens lúcidas
devora teus poemas doces
sorve tuas músicas lógicas
e quaisquer outras folhas
nutrológicas

16 nov 2006

Thursday, November 16, 2006

VALE A PENA

majestosa montanha
que minha cobiça profana
áridos são teus caminhos
desbocados pergaminhos
que desolam a campana

ergo-me da cama a revelia
sonolenta distância de tudo
da glória que fascina em harmonia
convencendo-me que não sou
o que deveria

comisero-me desesperado
rogo-me foragido
e enterrado
em meu próprio ermo
congelado

montanha gigante e potente
que esmaga-me a despeito
daquilo que eu tente
tu és o marco da aurora
e do poente
por teu topo pelejo caduco
e sigo em frente

oh sublime montanha
afasta a nefasta
ilusão que nos aparta
fortalece o passo daquele
que segue tua carta

eu sou a montanha!
tanto forte quanto efêmera
sigo resoluto ao píncaro
jubiloso
sem temer o infortúnio
pesaroso

eu mesmo sou a antena
que capta, julga e acena
o exato ponto em ti
que vale a pena

15 nov 2006

LADRÃO DE PALAVRAS

não há nada de novo
entre o céu e a terra
nem mesmo tão nobre discurso
ou aquele que o reitera

sou um ladrão de palavras

tomo para mim
os alheios dizeres
que publicados em folhetim
vendem prazeres
verborrágicos perfumes de jasmim

de meu mesmo
não tenho nada
só aquilo que como
mastigo
e dou uma cagada

colho palavras no mundo
como quem colhe bananas
palavras que eu não inventei
nem tão pouco entendi

de tanto que colho palavras
vez em quando sai um conto
tem conto feliz
e outro meio ácido
de grão em grão
empapuça-se o galináceo

13 nov 2006

A LUZ NÃO TEME O ESCURO

a luz
penetra nas grugumilas
de com força

projeta a sombra
daquilo que ergueu-se
em torno do ponto
que é

a luz que a tudo limpa
e purifica
elimina por completo
tudo aquilo que atrapalha
e danifica

vá de encontro à luz
ó viril mariposa
sê corajosa
tua glória depende
de como tu voas
pois tanto aprumada quanto pegajosa
teu destino é queimar

12 nov 2006

MORDENDO SENTIMENTOS

toda expressão
é tola e insignificante
perante a sutil e inefável
existência do sentimento

o tempo é uma ilusão
tal qual o espaço que o define

nada do que se mostra
de fato é
senão sonho misterioso
epopéia longa e sinuosa
gotas da majestosa
sinfonia que é

o mar a todos engole
tanto o da montanha
quanto o que da onda foge

meu caminho não é
melhor do que o seu
nem tão pouco meu pífano
mais virtuoso que orfeu

mordo o verbo que profiro
dando uma dentada
naquilo que vem comigo
a lumbriga a mim destinada

uma mutação sem precedentes
canta o ritmo dos meus passos
embala meus sonhos mais vagos
e molda minha pele com os dentes

entender o que sinto agora
é morder o próprio dente

12 nov 2006

PRÍNCIPE BRASILEIRO

é o Lula de novo
saculejando meus ovo

a democracia
é a asristocracia do Dêmo

somos filhos dos marechais
e dos poetas ancestrais

a música que deleita o filho
relê os temas gozados pelo pai

não há nada de novo
entre o céu e a terra

não há nada de novo
exceto
o momento que é
e nunca deixou de ser

como pode
o insulto de toda prole
saber d´alguma coisa
sem que o valor se ignore?

sou um Príncipe Brasileiro
tão bufão quanto nobre

12 nov 2006

O PORCO E O SOL

o porco adora
maionese e katchup
um pão bem gordão
e mais o que vier de montão

o porco não vê
coitado
que tudo aquilo que existe
queima no fogo infinito

SOL
do qual tudo brota
desde o universo manifesto
até meu gozo mais restrito

ONIPOTENTE SOL
de ti exala o perfume de jasmim
e o ardume de toda bosta

ah, não fosse o sol
o que seria do porco?
cairia bêbado
algoz e vítima
da própria paixão

12 nov 2006

EMBREAGUEM-SE!

Embreaguemo-nos todos
De vinho, virtude ou solidão
Tu és tudo
Tu és eu
Embreaga-te pois
Em mim
De ti mesma!

Quem és tu
Óh Bardo Longo
Que transpassaste tua música
Em meu ouvido nu?

Não avexa teu corpo
Que mordo e adorno
Que queimo e boto no fogo
Em chamas como eu

Embreaguem-se todos!

Tomemos todos
No gargalo
O elixir da vida
Que mostra e ensina
Reluz e germina
Tudo aquilo que mais nos fascina

Nosso jardim regado
Embreagado
De eu e você

12 nov 2006

O ENCONTRO

Eis o momento do
Encontro!
Seus olhos alinhados com os meus
Pela primeira vez

Seriam os olhos os juízes?
Qual seria o cronômetro
Que aguçadamente precisa o atômico instante
Do encontro?

Quem sou eu?
Confundem-se
Olho, olhar e objeto

Naquele sublime momento do encontro
Estávamos de pé
Rodeados por verdejante e folhosa natureza

Nosso mais velado sentimento
Embrenha-se em brancas vestes
Pacientemente aguardando o tempo do
Encontro
Que não cabia em um piscar
E estourou qual Pipoca
Eu e você

O encontro não passa de um
Ponto de vista

Sempre estivemos juntos

Linha
muito prazer

9 nov 2006

O POETA

Cada palavra que me foge
Sepulta-me um palmo mais pro fundo
É gota de meu sangue que seca
Legando-me ao esquecimento moribundo

Cada palavra que a mim chega
E escapa
Nem mesmo torna-se
Vil bravata
Não é nada

Cada verso que imerso
No pote opaco e vazio
Mal chega a ser o inverso
Daquilo que morreu

Atento, Poeta!
O mundo precisa de ti!
O mesmo mundo que teus poemas
Consome
E que ao teu silêncio
Geme de fome
Paga teu vintém escasso
E a sopa que te mantém no passo

Dedica a ele, Poeta
O vai e vem de teu compasso
Pois o verso que lhe convém
Tu sabes
Eu mesmo faço

9 nov 2006

Sunday, November 12, 2006

ECOS DA SOLIDÃO

triste do filósofo poeta
exposto às víceras da mente
ciente delas tal qual
o porco acoado
sabe do cutelo à sua frente

triste do filósofo poeta
arrebatado pelo fogo da paixão
e parasitado pelo conhecimento
da fugacidade e inconstância
de tudo aquilo que se move

triste do filósofo poeta
encantado por místico perfume
pueril e cego se entrega
à busca de si mesmo na carne de outrem
tão alheia a ele quanto sua própria

triste do filósofo poeta
enlameado pela imundice
de suas próprias veias
iludido pelo astuto véu
que em único ato a tudo revela
e esconde

triste do filósofo poeta
ao defrontar-se com a
solitária e silenciosa
morte
que iminente e paciente
o espera

triste do filósofo poeta
distraído pelas grugumilas orgânicas
tolo esquecido
da real dimensão de seu poder

feliz do filósofo poeta
que usa sua filosofia
como diz respeito
e sua poesia
como lhe é de direito
reatando-se pois ao botão
de seu amor verdadeiro

12 nov 2006

Saturday, November 11, 2006

PAIXÃO VIRTUAL

desejamos a máquina
entregamos a elas
o deleite de nossos sentidos
e o ranger de nossas dentadas
a máquina sempre sabe
exatamente o que quer
não tem o menor pudor
é pura lascívia
que não classifica nem aparta
apenas sente
seja lá o que for
que seja agora
a faca virtual
flamejante
tanto pode projetar a sombra
e resfolegar a peleja
quanto distrair o caboclo
todo cuidado é pouco
pois tu és a máquina
há como sair do verdadeiro caminho?
certo que não
uma vez que o caminho existe
não se pode dele afastar
não faz sentido
no real ou no virtual
sempre sentimos o absoluto
nunca sabemos o futuro
é par ou ímpar
não há diferença
usa sempre todos os teus recursos
e usa direito
não desperdice nem mesmo o mais diminuto
movimento de tua paixão

10 nov 2006

O BAÚ

erguemos o pesado baú
de celebradas vitórias
de passadas memórias
e arqueadas conjunturas

tal qual o caracol
carregamos para ali
e acolá
o pente e o urinol
e o trem de escovar

quanto mais sofisticado o baú
mais tralha cabe dentro
mais na borda que no centro
borda da vida...

a vida está no centro
de tudo o que concerne
e diz respeito
vale o que traz no peito
a despeito daquilo
que se volta verme

do centro solar tudo brota
o cordão, a graxa e a bota
e tudo o mais que passou
constando ou não no baú
pois joga ele às traças
e torna-te aquele que é

10 nov 2006

Friday, November 10, 2006

LÍQUIDO DO HOMEM

a vida do verbo
é proferida
escorre
e some

o verbo é o
líquido do homem
que brota na nascente do ontem
jorra pelos poros indefiníveis
do nada
e deságua no oceano infinito
absoluto

desenha o curso da experiência
escava o leito da criatura
entre meandros e bacias
mares e cataratas

o homem goteja líquido
entre as veias é o sangue
entre as árvores é o mangue
entre as rochas
renitente
arde o fogo que o ferve mole
loucura
tanto bate até que fura

9 nov 2006

Thursday, November 09, 2006

PAIXÃO

Tal qual os vampiros e os lobisomens
Somos seres famintos
De tempos em tempos somos arrebatados
Por um sentimento que não conhece limites

A Paixão
Nos pega por detrás do tempo
Nos fisga e recolhe o caniço!
Quando a sentimos
É como se ela sempre tivesse existido

Regida pelo Grande Espírito
Nos aponta o caminho de volta
Nos revela a nós mesmos
Potencializa e emana nossa energia
Transmuta a enfadonha e nefasta perfídia
Lança-nos com agilidade e velocidade
E sobeja qualquer compreensão

Decifrar-te-ei
Paixão
Ou devorarei
Minha própria
Carne

Linha
apaixonado
8 nov 2006

A EXISTÊNCIA

As nuvens existem!
Coroam o céu da existência
Dando cor e forma ao cenário da
Vida

Substância e expressão
Simultâneas

A música onipotente
Da existência
Que é!

É vela que acende
O candiêro
Pra modi as mariposa avoá
Em vorta tudim

Próspera
Ou debaixo de mal agouro

Sutil
Inefável

Linha
eu existo
2 nov 2006