Thursday, December 28, 2006

PERDIZ MINGAL E HELICÓPTERO ALHO NOVO

desejo a todos
um perdiz mingal
e um helicóptero alho novo

que nesse momento tão mingalino
a imagem do som velhinho
vestido de vermelho vivo
puxado por renas com roedores nos rins
nos aproxime de casa

que essa união com nossa família
e com nossos ancestrais
nos mostre nossa verdadeira identidade
e nos aponte bons caminhos
na teia infinita que a tudo nos conecta

somente na totalidade da teia
estaremos além dela

que nossos pedidos de
helicopteriedade
sejam realizados
e záz

e que a chegada do novo alho
seja do caralho
uába!

25 dez 2006

Friday, December 22, 2006

ECOS DA SOLIDÃO - 3

triste do mineiro poeta
apartado das minas da mãe
do ventre fugindo
em rasteira
em frente seguindo
capoeira

triste do mineiro poeta
rodando e subindo no ar
constatando à revelia
que do ventre de onde partia
fluia o seu próprio lar

triste do mineiro poeta
cansado ele sobe a montanha
no alto ele monta campana
e pita um cigarro de paia

sereno e mineiro poeta
que recolhe alheia bandana
e observa
e sente
no prana

forte e mineiro poeta
que nas jubas tem
jubilado
o amor jamais
consumado

amor que é rosa
é rainha

é paulista curumim
que também vem da roça
tipo um cheiro de jasmim

feliz do mineiro poeta
sentado no trono do Cristo
é o amor que lhe era previsto

21 dez 2006

Friday, December 15, 2006

O DIA PERFEITO

todos os dias de tua vida
costuram uma formosa malha
dialogam austeros
intensos
e ouvem astutos
atentos
o que cada um tem a dizer

cada dia que passa
marca do tempo o toque preciso
revela vaidoso Narciso
e o afoga no oceano do nada

vem o sol quando o dia nasce
nova chance de desatar o enlace
deixado qual um nó pelo ontem
quando tu em fraqueza hesitaste

deixo para ser amanhã
consumado
o que no hoje esmero
ensaiado

quando virá o dia
da grande estréia?

todo dia é estréia
e também saideira
é tudo isso de novo
à sua maneira

só existe um único dia
fugaz e eterno
o dia perfeito

13 dez 2006

O SILÊNCIO NÃO EXISTE

quem és tu
silêncio
que com olho cru
observas
cada pulso de mim?

o que significa teu não-falar?
que mensagem vem de ti?
qual o som que não ouvi
e nem sequer entendi?

melodioso e irresistível
silêncio
embala-me em voluptuoso
deleite
e beija-me com gosto puro
de leite
invisível harmonia

o silêncio não existe
tudo aqui é manifesto
a informação que não persiste
em cada ato indigesto
é o pai ao qual subiste
com a mãe de nobre afeto

como podes tu
silêncio
fingir-se taciturno
expressão do vazio
não fecundo
tendo brasão tão aceso
e diurno
além de calada face
fechada a todo mundo?

como podes estar
em silêncio
se ouço tanto de ti?

28 nov 2006

Monday, December 11, 2006

ECOS DA SOLIDÃO - 2

triste do apaixonado poeta
que moribundo olha para o céu
saudoso de sua amada
encrustado em alguma prega
do intestino do mundo

triste do apaixonado poeta
pobre pecador andarilho
que nada leva do caminho
senão jubilosas lembranças
daquilo que foi e não é mais

triste do apaixonado poeta
pois não há mal que não se agüente
nem prazer que definitivo o contente
no impiedoso vendaval da vida
que a todos absolve
e revolve
e leva embora

triste do apaixonado poeta
destituído de qualquer apoio
que em nada vê sentido
senão no pecado redimido
que ele nem lembra ter cometido

triste do apaixonado poeta
procurando desesperado pelo remédio
que o cure da doença vil e implacável
da vida
sexualmente transmissível

triste do apaixonado poeta
que pacientemente aguarda
a onda que o levará para longe
de sua própria monstruosidade

feliz do apaixonado poeta
bem sucedido na construção do castelo
de serenidade e desapego
e assim controla como mestre do zêlo
o curso de seu mergulho
na mulher que o completa, redime e cura
fogo de sua maior paixão

11 dez 2006