Monday, January 29, 2007

AMOR EM GOTAS

paixão acelera o passo
daquele que caminha
estala osso da espinha
explode grande, bonito
tostada qual palito

paixão é fogo breve
que engole e que bebe
glutão desejo que serve
para coisa alguma

paixão é chama fugaz, vil
mais ligeira que vela de encosto
mais curta que coice de porco
se piscar, ninguém viu

como pode o carro ir depois
toar na frente dos bois
sem que desande, pois
o rumo do um e do dois?

bom mesmo é amor que arde
em gotas
dispensa força e alarde
escorre jeitoso agora
e também mais tarde

amor em gotas
água que abunda
tanto pinga
até que inunda

29 jan 2007

Sunday, January 28, 2007

ECOS DA SOLIDÃO - 4

pobre do abandonado poeta
que acredita no amor aparente
que por ele se faz carente
ignorando o abuso vigente

pobre do abandonado poeta
curioso por uma explicação
indignado pela situação
lutando por dominar o coração

pobre do abandonado poeta
que sonha com conforto oceânico
que nem mesmo o pontual britânico
lhe sabe dizer quando volta

pobre do abandonado poeta
que entre extremos oscila
não sabe se vai ou se fica
fome que com ele vacila

pobre do abandonado poeta
solto no vento do mundo
envolto no véu imundo
egoísta vontade de tudo

pobre do abandonado poeta
que romântico ainda acredita
no amor em forma de pepita
indestrutível força criadora

feliz do abandonado poeta
que de novo consegue ver
nada do que existe importa
senão a firmeza com que se abre
a porta
e o vazio absoluto do Ser

28 jan 2007

Wednesday, January 24, 2007

TU ÉS

tu és
o ser solitário
que apartou-se daqueles que ama
fez caminho contrário
buscou a paz fora de si

tu és
algoz e vítima
de teus próprios passos
vacilantes

tu és
o farto provedor
que cobiçou recompensa
primeiro erro em que pensa
o poderoso perdedor

tu és
aquele que chora
desarmado
diante do sono e da morte
e do ser amado

tu és
aquele que É
esquece, pois, teu existir
e seja Um
com o útero do qual nasceu
longe do qual gemes de fome
oceano que nunca morreu

24 jan 2007